Brincadeira na internet renova história de Oliveira


Márcio Almeida

O escritor russo Leon Tolstói escreveu: “Se queres ser universal, canta tua aldeia.” Na período entre 1 e 9 de março apareceu na internet uma brincadeira virtual que tem por mote a frase “diz que é cria de Oliveira, mas...”, completada com uma lembrança do internauta participante. Essa brincadeira caracterizou uma demonstração ao vivo da cidade, trazendo à tona personagens e lugares públicos que registram a história vivida pela população a partir de tradições marcantes na memória de cada um. É um feedback na história recente feito com recordações que lembram a vivência de todos num processo de desenvolvimento humano através da interação social, da formação de uma identidade municipal própria e de um conjunto de referências do modus vivendi dos oliveirenses. As frases dos internautas são assim a narrativa histórica com leitura espontânea do que somos em vivência comum com os conterrâneos. A memória como resistência e contra o esquecimento de tudo que ainda significa valor na vida de todos. Confira a seguir:



“Diz que é cria de Oliveira, mas...não sabe o que significa ´nossa, cê viu que pão?´; nunca correu do Marra Égua, do Urso Branco, do Jaburu; nunca esteve na loja do Sr. Orestes Cambraia; nunca parou na Praça XV depois da aula pra ver os peruanos tocar seus instrumentos típicos; nunca se lembra da Paudete; nunca foi na pista de patinação perto do hospital; nunca comprou na loja do Mozart, do Tonho do Olegário ou na padaria do Sr. Dico.”



“Diz que é cria de Oliveira, mas nunca foi na rua Santo Antônio da Chiquitinha, Anjo e Narciso, conhecida como zona; diz ser atleta mas nunca jogou nos Jep; mas não foi aluno do professor Sílvio Nazaré; nunca se lembra da Escola Nossa Senhora de Oliveira.”



“Diz que é cria de Oliveira, mas não fez por pisar na grama do jardim da Praça XV pra provocar o Sr. Nicolau; nunca foi pra porta do asilo tomar uma; não se lembra do Sr. Michel. Nunca tomou pinga com picolé no Rei dos Picolés; nunca comeu o misto quente da lanchonete do Sr. Zizi.”



“Diz que é cria de Oliveira, mas nunca escorregou no corrimão da igreja de Nossa Senhora Aparecida; nunca foi em show do trio Parada Dura; nunca comprou pão na carrocinha da Panificadora Centenário; não sabe o que é tomar vaca preta no Beijo Frio; nunca tomou vinho Canção no Bizarro na rua Direita.”



“Diz que é cria de Oliveira, mas nunca comeu aquele pé de porco com farinha do munho do Joaquim; nunca tomou uma varada de cai-n´água na infância; nunca se lembra do Homem-Tocha.» Nunca foi atrás do Caminhão do Mé; nunca foi no Baile da Espuma na Aero Dance; nunca se lembra do Eduardo Costa cantando no Zé Leiteiro.”



“Diz que é cria de Oliveira, mas não se lembra de ter montado no leão da Praça XV; nunca roubou jabuticaba na horta do Dr. Domingos; nunca estudou com as três Marias no Ginásio - Auxiliadora, José e Cidinha; nunca foi na casa de vizinhos assistir TV; nunca foi na venda do Sr. Bonão; nunca morreu de medo quando a professora chamava o Janjão; não participou da Saca Só, Pior que é Breu, Só Faia, Equipe Angu, Convertentes nem Tuiuí; nunca ajudou a queimar o Judas na festa da Páscoa do professor Múcio Lo-Buono; nunca tomou injeção na farmácia do Fabiano Laranjo.”



“Diz que é cria de Oliveira, mas nunca votou no Eliseu, Emílio, Ieié, Pepita e Nem do Beijo; nunca se assustou quando o professor Toledo chamava o aluno pelo nome completo; não entrou no alpendre do Palácio das Águias; nunca furtou frango no Hotel do Josias de madrugada e assou na padaria do Geraldo da Lázara; nunca comeu linguiça Maria Rosa vendida no Sr. Hemetério; nunca ouviu falar do cavalo de 3 patas que aparecia na rua Francisco Paulinelli, na quaresma; nunca ficou em passinhos pedindo esmola, fez instrumento com bambu como ganzá e reco-reco, brincou de pé no beque, queimada, maré ou pique na rua.

Márcio Almeida
Publicado no jornal Gazeta de Minas, pagina 2, em 18 de março de 2018.



Adorei a brincadeira! Trouxe lembranças e situações pitorescas da cidade e seus habitantes. Alguns relatos trazem situações muito vivas na memória do Oliveirense, mas que não ficam escritas oficialmente, seja nos meios de comunicação local, seja nos livros ou fotos. Aqueles detalhes que fazem ou fizeram parte da nossa vida cotidiana e que com o tempo ficam esquecidos. Ilustrei a coleção que o Márcio publicou na Gazeta com alguns prints que fui recolhendo durante a brincadeira que aconteceu no Facebook. É parte da nossa História Oliveirense, viva e contemporânea.