Então é natal?


Téta Barbosa

Então é natal e, ops, o mundo não acabou. Pelo menos até o fechamento deste texto, nenhum meteoro suicida explodiu devastando os seres humanos da face do planeta azul. Que pegadinha, hein Maias? A gente aqui, esperando chuva de estrelas cadentes seguida de explosões planetárias, e tudo o que rolou foi a sessão da tarde seguida de um episódio de Malhação. Acontece que o pessoal da Prefeitura do Recife, homens crentes e de fé, acreditaram piamente na previsão milenar do povo Mesoamericano. Afinal, pensaram eles, uma civilização tão brilhante como os Maias merece crédito, nem que seja um empréstimo consignado com a moça do caixa.
E a prova, irrefutável e incontestável desse voto de confiança na previsão da catástrofe mundial é que a Prefeitura resolveu nem colocar a decoração de Natal nas ruas, apesar de ter gasto dois milhões com ela. Imagino que nossos respeitados líderes do povo se reuniram e, depois de calorosas discussões, decidiram que seria inútil pendurar luzinhas natalinas pela cidade, considerando que o mundo teria acabado. The end my friend!

Claro que eles poderiam ter pensado nisso antes (da licitação, de preferência).

No calor das festividades, e do sol do Recife, alguém gritou de lá:

-         E se o mundo não acabar?

Ninguém tinha pensado nisso antes e foram, às pressas, pendurar meia dúzia de lâmpadas e acender uma árvore uma semana antes de cantar Jingle Bells. Uma semana, repito.

Parece que o filho de Deus não anda com tanta moral por aqui e a decoração do seu aniversário ficou na planilha do plano B, intitulada “se o mundo não acabar”.

Espero que o descaso com o divino, não tenha deixado Jesus arretado o suficiente para dizer: “Ah, é o fim do mundo que vocês querem?” e acabar, ele mesmo, com essa brincadeira, explodindo cidade por cidade, sem esperar previsão Maia. Ou pelo menos, explodindo as cidades sem decoração e sem vergonha na cara!

Não que eu seja a favor de uma cidade toda decorada com neve de plástico, renas que piscam e pinheiros artificiais, porque eu tô pra ver uma festa menos brasileira, mas não ter decoração nenhuma é demais da conta.

Imagino que os dois milhões orçados para a festa natalina estejam numa poupança intitulada: “já que o mundo não acabou, vamos construir mais escolas” ou quem sabe, “os Maias erraram, então vamos acertar e investir na saúde pública”.

Sabe como é nordestino; uma esperança que não acaba nunca. Nem com o fim do mundo!



Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa aqui e alhures. Escreve sobre modismos, modernidades e curiosidades:
http://www.batidasalvetodos.com.br/
via: http://hugocaldas.blogspot.com.br/


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