Vivina do C. Rios Baldino
Os dados do uso do álcool no Brasil são cada vez mais assustadores. Pesquisa recente da Unifesp mostra que 22 milhões dos homens abusam do álcool, 16 milhões são dependentes da bebida e 12 milhões são alcoólatras – um aumento de 30% em 10 anos; 8 milhões das mulheres abusam do álcool e 5 milhões são alcoólatras – um aumento de 50% em 10 anos. Cerca de 30 milhões de brasileiros são bebedores de risco. Segundo a Associação Brasileira de Alcoolismo, cerca de 5% dos trabalhadores são alcoólatras, sendo a terceira causa de falta ao trabalho. Pesquisa atual em sete capitais brasileiras confirma a gravidade do problema: 70% a 88% dos adolescentes compram livremente bebidas. Segundo Ronaldo Laranjeira, da Unifesp, os dados mostram a fragilidade das nossas políticas preventivas e a visão equivocada de que “beber é um mal menor”. Ele reforça o impacto agressivo e perigoso do álcool no organismo, especialmente nos menores de 18 anos, causando 10% de toda a mortalidade ocorrida no país.
Essa droga está diretamente ligada à maioria esmagadora das ocorrências policiais e registros hospitalares nos hospitais públicos e particulares, especialmente em fins de semana e no carnaval. De 2002 a 2006, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou mais de R$ 40 milhões no tratamento de dependentes e atendimentos hospitalares de dependentes do álcool. Quanto se gastou em 2011?
O álcool é também causa de crimes como estupros, agressões diversas, violências domésticas, mortes, sexo desprotegido, contágio de DSTs e gravidez precoce. Pesquisa inédita da Unifenas relata danos graves do álcool aos ossos. Segundo o pesquisador Leandro Reckers, “o osso de um alcoólatra de 30 anos equivale à estrutura de um idoso de 75 anos”. O governo não pode ignorar os graves danos causados pelo álcool. Relatório da Organização Mundial da Saúde recomenda que os governos aumentem os impostos sobre o álcool, restrinjam as vendas, adotem políticas de prevenção do alcoolismo e programas de tratamento, além de proibir a publicidade de bebidas alcoólicas especialmente na TV. O Movimento Propagandas em Bebidas da Unifesp e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo buscam aprovação de projeto de lei que regulamenta esse tipo de propaganda. Enquanto isso, em 2010, a AmBev produziu 5,9 bilhões de litros de cerveja e a produção nacional foi de 12, 4 bilhões. O Brasil é um dos maiores consumidores do mundo, tem atraído muitas marcas e, com concorrência acirrada, as propagandas de cervejas são cada vez mais apelativas e sensuais. Não por acaso a cerveja é a bebida mais consumida pelos jovens.
Ocorrem em casa 40% das bebedeiras, mostrando o erro de adultos verem como normal essa transgressão
Pesquisa inédita do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid), coordenada pela especialista Zila Sanchez, com 15 mil jovens sobre o abuso do álcool, será publicada na revista científica Drugs and Alcohol Dependencee traz dados alarmantes da bebedeira precoce e em família no Brasil: 25% se embebedam em bares; 21% em casa de amigos; 17% na própria casa ou na de parentes; 33% bebem com amigos; cerveja é a bebida mais consumida e 42% dos jovens são da classe A. Em 40% dos casos, a bebedeira o correu na própria casa,na de amigos ou parentes, mostrando o perigos o fato de adultos verem como natural essa grave transgressão. O mesmo fato ocorre em bares e boates. Por que a lei não é aprimorada e cumprida com rigor?
Os EUA conseguiram baixar de 50% para 38% o consumo de álcool pelos jovens com leis severas. Como regra nacional, menores de 21 anos são proibidos de comprar bebidas e quem vender ou permitir que bebam pode ser preso. Há a Lei do Anfitrião, que pune até com prisão quem dá uma festa e permite consumo de bebidas alcoólicas pelos menores de 21 anos. Por que não praticar essa experiência no Brasil com menores de 18 anos? Permitir a bebedeira de menores e achar “normal” é um perigoso e irresponsável ato. O governo precisa aprimorar e exigir urgentemente o cumprimento da lei. Fazer urgentemente educação preventiva sobre os graves riscos do álcool nas escolas, comunidades e na mídia. De nada adianta proibir e prevenir sem regulamentar e/ou proibir também as sensuais propagandas de bebidas na TV, que seduzem milhões e milhões de jovens para esse perigoso vício, que mata e traz tantas tragédias, doenças, mortes e custos. Urgente tolerância zero para o álcool antes dos 18 anos e regulamentar/proibir com rigor propagandas dessa droga na TV.
Vivina do C. Rios Baldino, Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil.
Publicado no jornal Estado de Minas, Opinião, pagina 7, em 23 de julho de 2012
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